Descobrindo Marthe Robin

 

 

A pessoa de Marthe Robin

A pessoa de Marthe Robin é muito rica. Ela é um pouco como um diamante com inúmeras facetas. O mistério de Marthe, sua alma profunda, podemos apenas a balbuciar, mas mesmo assim, nada nos impede através desta balbuciação, entrar como por uma porta aberta que nos estimula a penetrar mais e mais neste mistério de amor, de compaixão e de esperança que ela testemunhou durante a sua longa vida. Marthe morreu dia 06 de fevereiro de 1981 com 78 anos de idade.
Após de 40 anos do seu falecimento em Chateauneuf de Galaure, na fazenda familiar, aonde ela passou toda a sua vida acamada desde 26 anos de idade, Marthe suscita sempre mais e mais questionamentos sobre a verdadeira vida. Com efeito, como confessar com tanta constância e ânimo o amor incomensurável de Deus no meio de tantos sofrimentos e condições de vida que teriam desanimados os mais fervorosos dos cristãos?
O mistério de Marthe é ligado ao mistério de Cristo mesmo ao qual ela foi progressivamente tão unida que podia dizer desde 1933 : Não vejo o que eu possa ter no Céu mais do que tenho hoje. Eu verei a Deus face a face, é verdade, mas para estar com Ele, para estar Nele, já o estou plenamente na terra”.

O mistério de Marthe

O impressionante na vida de Marthe não é que ela foi uma grande doente, mas que ela soube desta doença fazer um trampolim para uma vida virtuosa fora do comum e sobretudo próxima de Deus. Com efeito, quem freqüentou Marthe testemunha que a gente não tinha a impressão de estar próximo a uma doente. Muitas pessoas testemunharam que Marthe teve uma grande habilidade para fazer esquecer que ela era doente e que sofria constantemente. Eis por exemplo o que ela escreveu em 1930 enquanto ela tinha 28 anos de idade:
Graças a Jesus, graça sobretudo a nossa boa Mãe, entendo sempre melhor em dissimular o que está em relação, tudo o que pode relembrar que estou doente, e a calar os males dos quais eu sofro constantemente e dos quais eu falo somente muito pouco”.
“Eu quero que tudo ao meu redor e em mim irradie a harmonia, o santo contentamento, a alegria e a imensa bondade de coração”.
(Diário, 29 de março de 1930)

Marthe teve a certeza de ser amada por Deus

Marthe, na sua situação humanamente desesperada teve a certeza de ser amada por Deus. A sua vida não tinha futuro possível devido a doença, sofria a violência da dor em permanência assim como a incompreensão ao seu redor e mesmo na sua própria família que ela tanto amava. No entanto, Marthe nunca cessava de afirmar: Deus é bom. Deus é Pai. Deus nos ama” e ela acrescentava: “Deus se compadece e amansa todos os nossos sofrimentos. […] Todas as nossas dores, Jesus as partilha. Todas as nossas cruzes, ele quer que elas floresçam (Diário, 12 janeiro 1930).
O sofrimento na vida de Marthe nunca cessou de aumentar, mas mesmo assim, atendeu mais de 100.000 pessoas no seu quarto a quem ela proporcionava reconforto, prometia a sua oração e finalmente as ajudou a viver. As pessoas eram marcadas pela sua alegria que transparecia na sua voz e na sua memória extraordinária, pois ela se lembrava perfeitamente de tudo.

Uma mudança significativa

Na vida de Marthe Robin que teve que se confrontar com a doença desde 16 anos de idade, (foi descoberto pelos médicos que ela sofria de encefalite crônica) houve uma mudança significativa em 1928, dia 3 de dezembro, enquanto ela tinha 26 anos, durante uma missão paroquial organizada pelo seu pároco, o padre Faure. Ela tinha já feito em 1925, dia 15 de outubro, um ato de abandono ao Senhor numa entrega total da sua vida que não deixará de permanecer o alicerce de toda a sua existência:
Deus eterno, Amor infinito! Ó meu Pai! O Senhor pediu tudo a sua pequena vítima, tomai por isso tudo e recebei tudo… Neste dia, me dou e consagro a Vós, toda inteira e sem retorno. Ó, bem amado da minha alma, meu doce Jesus, sois vós somente que eu quero, e por vosso amor, renuncio a tudo![…] Meu Deus, tomai minha memória e todas as suas lembranças, tomai meu coração e todas as suas afeições, tomai minha inteligência e todas as suas faculdades[…] tomai minha vontade toda inteira….[..] A Vós me entrego e me abandono (Ato de abandono).
Ela já tinha escolhido o caminho da confiança em Deus, estimulada pelo testemunho da nova santa na época de Teresinha de Lisieux, canonizada em 1925 e que a marcou profundamente pela sua espiritualidade toda de confiança em Deus só, mas sem entender bem o que Deus esperava dela.
É neste contexto de missão que a visita de dois frades capuchinhos mandados pelo pároco a visitaram e que ela experimentou entre a sua confissão e sua comunhão uma  efusão do Espírito Santo que a transformou profundamente no sentido que ela entendeu que tinha uma missão para cumprir durante a sua vida neste mundo.
O padre Faure que se tornou em seguida seu padre espiritual testemunha que na noite do 4 a 5 de dezembro, logo após a visita dos missionários, Nosso Senhor apareceu a Marthe e lhe pediu se ela consentia a sofrer para a conversão dos pecadores em geral e de Chateauneuf em particular, e lhe disse que Ele queria que o seu pároco seja o seu pai espiritual e que haja entre eles dois uma união toda particular.

Marthe descobre a paternidade espiritual do sacerdote

Her life : Marthe RobinPouco tempo depois da missão paroquial, Marthe escreveu uma carta  ao seu pároco para lhe pedir se aceitava de se tornar um pouco o seu padre espiritual. Marthe descobriu que a paternidade de Deus passava também pela paternidade espiritual do sacerdoteA partir deste dia, a relação do pároco mudou com Marthe e ele começou a visitar a sua paroquiana doente mais regularmente e levar a comunhão para ela.

Marthe se alimenta exclusivamente da Eucaristia

A partir de 1930, Marthe tendo uma paralisia das funções deglutivas, não poderá mais absorver nada a não ser a Hóstia consagrada que ao final permaneceu o único alimento dela durante 50 anos até a sua morte. Marthe era profundamente unida a Jesus e disse que a Hóstia entrava nela como um “Corpo vivo”.
A gente não sabe como ela comungava pois ela  tinha deglutição nenhuma, mas a hóstia desaparecia no seu corpo quando o sacerdote a depositava nos seus lábios. Então, Marthe se alimentou exclusivamente deste alimento espiritual vivendo assim a palavra de Jesus “Meu corpo é verdadeiro alimento, e meu sangue verdadeira bebida”. Um dia que Jean Guitton, filósofo francês da Academia de Ciências a interrogava, ela respondeu assim :
Sim, me alimento só disso. Uma pessoa me umedece a boca, mas não posso engolir. A Hóstia me proporciona uma impressão física de alimento : Jesus está em todo o meu corpo. É Ele que me alimenta. É como uma ressurreição!.”

Marthe estigmatizada

Sabemos pela postulação que Marthe foi estigmatizada no dia 02 de outubro deste mesmo ano de 1930, mas Marthe fica muito discreta sobre o que ela viveu. Nem ao seu padre espiritual, o Padre Faure, ela falou disso e ele o descobriu por acaso numa sexta-feira de 1932 enquanto Marthe sofria a Paixão de Jesus. No seu diário, que ela escreveu por obediência ao seu pai espiritual, Marthe falou em relação a este período do final do ano de 1930 da “união íntima da sua alma com Deus”. Todo o meu ser sofreu uma transformação tão misteriosa que profunda.[…] Que trabalho! Que ascensão Deus realizou em mim, mas quantos sobressaltos de coração, quantas agonias de vontade são necessárias para morrer a si mesmo!” (Diário, 31 de dezembro de 1930).
O padre Finet relata que “na sexta-feira da mesma semana, Marthe começa a viver a Paixão de Nosso Senhor de uma maneira mais real, mais completa e exteriormente”.
 Em Marthe estamos diante de um mistério de amor, um amor apaixonado por Jesus e para os pecadores que ela ama até querer sofrer por eles… “que eu morra, mas que eles tenham a vida”  dizia muitas vezes Marthe, às sextas-feira à tarde, enquanto revivia a Paixão de Jesus.
 Marthe foi como que fascinada pelo amor de Jesus, trilhando sem ser carmelita, pois a sua saúde não deixou, o mesmo caminho que Teresinha, caminho de confiança filial vivido com uma audácia sobrenatural. Marthe escreveu em 1931 : Teresinha é para mim uma irmã mais velha da qual a sua doutrina toda de amor foi tão beneficente a minha alma na época das grandes trevas e da não menos solidão na qual me encontrava”.

Uma atividade profunda

La prophétie de Marthe Robin en 1947 et L'Ile-Bouchard
Marthe acamada toda a sua vida, inverte uma situação de fato: para ela, inatividade forçada se torna atividade profunda. Ela disse: “A ação me é recusada aqui na terra, mas Jesus me dá de exercer aquela da oração, do amor no sofrimento, nos sacrifícios desconhecidos. Ela parece estéril no mundo, mas quão fecunda diante Dele. Minha parte é bem bonita, é a parte de Jesus e de Maria; é a parte dos anjos no céu que adoram e que rezam.” (Diário, 28 de agosto de1930). E Marthe não deixa de rezar ao Senhor com palavras audaciosas:Meu Deus ! Daí ao meu abandono, à minha inatividade, um transbordamento, uma atividade profunda que corresponda e ultrapasse as mais laboriosas tarefas. (Diário, 2 de fevereiro de 1931).

A missão de Marthe

No entanto, nos anos após a missão paroquial de 1928, Marthe entende que o Senhor quer lhe confiar uma missão, e a partir de 1933 o Senhor começa a lhe revelar seu projeto que diz respeito a uma Obra que Ele mesmo chama “a grande Obra do meu amor”, e que ela ia começar com a criação de uma escola na paróquia, com a oração das crianças.
“Neste momento, Jesus abriu os braços num gesto glorioso de benção e de amor, os olhos baixados para a terra que Ele cobria majestosamente da sua Sombra, considerando-a com uma ternura e uma complacência inefáveis. Após um momento desta atitude, ele me designou o lugar preciso aonde ele desejava a sua Obra que tinha que adquirir . Após um momento, ele continuou: “Sim, quero fazer aqui algo de novo e de muito grande para nossa glória, por causa de ti...” (texto fundador – 1933)
O contexto religioso na França e na aldeia de Chateauneuf na época não era favorável a religião, Marthe hesitou muito a falar com o seu pároco do projeto do Senhor, mas finalmente, diante da insistência do Senhor, venceu os seus medos e falou com ele. O padre Faure, após consultas, reflexões e muitas hesitações, consentiu, superando todos os obstáculos, em abrir esta escola paroquial dia 12 de outubro de 1934, com 7 alunas.
Marthe acompanha com sua oração este nascimento: Meu Deus, fazei que possamos abrir uma escola para vos fazer amar, aonde todas as crianças aprenderão a vos conhecer e a vos amar” (cadernetas do padre Faure, 11 de maio de 1934). Mais tarde, Marthe comentou: Quando penso que o Foyer começou com a escola, eu estou ainda toda emocionada”.
Podemos dizer que a oração das crianças foi como um berço para a Obra dos Foyers de Charité que iam nascer e espalhar-se no mundo inteiro.

Marthe encontra o Pe. Finet para desempenhar a missão confiada.

Marthe Robin
Concretamente, dia 10 de fevereiro de 1936, o encontro de Marthe com o padre Georges Finet da diocese de Lyon foi decisivo para o lançamento da Obra. De fato, através de um quadro de Maria Medianeira que ele levou à Marthe para a escola das crianças, Marthe reconheceu nele o sacerdote que Deus tinha eleito no seu coração para o desenvolvimento da grande Obra do seu Amor que Ele quis iniciar a partir da aldeia de Marthe, Chateauneuf-de-Galaure.
Marthe revelou então ao Padre Georges Finet o projeto do Senhor que era de iniciar aqui mesmo com ele pregações para formação de leigos numa perspectiva missionária. Desta forma iniciou em Chateauneuf de Galaure, na aldeia de Marthe e com a sua impulsão, no departamento da Drôme, na França, o primeiro “Foyer de Luz, de Caridade e de Amor”.
Abus sexuels, emprise : révélations des Foyers de charité sur leur fondateur
O Foyer que Jesus chamavaa Casa do meu Coração aberto a todos”, tinha vocação a se espalhar no mundo inteiro para a glória do Reino de Deus fazendo parte da nova evangelização promovida pelos últimos papas, na graça do Concílio Vaticano II, essencialmente a partir do apostolado dos leigos.
Se Marthe foi a fundadora da Obra dos Foyers de Charité, a única Obra que ela fundou com a ajuda do padre Faure e em seguida do padre Finet, à partir das revelações de Jesus, a missão de Marthe desde esta terra abarca muito mais, pois Jesus lhe disse: “Não te escolhi apenas para uma Obra, mas para milhares de obras”. Na realidade estamos verificando que Marthe ajudou muitos fundadores de comunidades novas após o Concilio Vaticano II que a consultavam e pediam orientações. Ela foi uma mulher escondida pela sua doença e a sua vontade de ficar escondida em Deus, mas também foi, mesmo sendo simples leiga, uma pessoa que fez incontestavelmente autoridade na França do século XX.
A rapidez da extensão dos Foyers de Charité foi surpreendente, assim como a diversidade geográfica das implantações. A iniciativa das suas fundações provém de origens diversas: eles são desejados pelos cristãos, por um sacerdote, ou pedidos por um bispo, ou uma região episcopal. Quando Marthe morreu, tinha 55 comunidades de foyers de Charité repartidos sobre 4 continentes. Esta fecundidade justificou, entre outros, o pedido de abertura do processo de beatificação de Marthe.
O papa Francisco proclamou no dia 07 de outubro de 2014 a heroicidade da virtudes de Marthe Robin “Venerável”. Somente após a análise do milagre post-mortem depositado na Sagrada Congregação para a causa dos Santos que Marthe poderá ser proclamada pelo papa bem-aventurada. Rezemos nesta intenção.